AÇÃO CIA NÓS NO BAMBU E INTEGRAL BAMBU NA RIO+20 ; por Flora Santos Seixas
A Rio+20, Conferência da ONU – que reuniu negociadores e ativistas durante 10 dias – com o objetivo de promover e garantir um futuro melhor no planeta, se realizou em diferentes etapas e locais da cidade maravilhosa. No Aterro do Flamengo se localizou a Cúpula dos Povos, evento que reuniu as mais diversas manifestações populares sob o patrocínio da Caixa. Neste espaço de rara beleza paisagística – criado pelo inesquecível Burle Marx – foi instalado um mini estúdio da Caixa, que acomodou a equipe do Projeto Ação Cia Nós No Bambu e Integral Bambu.
Esta ação proposta à Caixa pela Cia Nós No Bambu, através de sua produtora Liane Muhlenberg, oportunizou a apresentação de um sistema inovador, nascido e desenvolvido pelo professor de educação física Marcelo Rio Branco, no campus da Universidade de Brasília – UNB. A ação se desenvolveu em duas etapas: a primeira, apresentar ao público carioca, em especial e em geral a todos os participantes do evento, o sistema Integral Bambu. Em segundo lugar, levar a Cia Nós No Bambu, ao Festival Internacional de Circo, evento realizado em parceria com as Unidades de Polícia Pacificadoras – UPPs, acontecimento paralelo a Rio+20.A Cia Nós No Bambu é uma manifestação da vertente artística do sistema Integral Bambu.
O Integral Bambu é um Movimento nascido há doze anos em Brasília, que tem como proposta o cuidado com a vida através da preparação das estruturas biofísicas e psíquicas do corpo. O estudo desse método se alicerça nas mais variadas fontes de pesquisa do movimento do corpo, buscando o estudo diversificado das capacidades motoras para o equilíbrio da saúde e do bem estar de todo praticante. O Integral Bambu contém três nortes principais de pesquisa: a medicina, a função e a arte do corpo. A consciência corporal é uma busca para o desenvolvimento da expressão artística contida em cada pessoa, para a promoção da longevidade, da funcionalidade e da autonomia do indivíduo
O princípio filosófico da Vida orienta todo o sistema, de maneira que a responsabilidade de estar vivo é uma busca constante de cada praticante, a medida que escolhe as formas mais saudáveis de lidar com o exercício do corpo e da mente. Esse sistema compreende que vida é movimento, portanto, a Integral Bambu traz vida para as pessoas. Ao trazer vida e consciência, a responsabilidade com o seu corpo e com o seu ambiente promove atitudes auto-sustentáveis do ser Integrado.
O nome Integral vem do campo abrangente que se procura em todas as atitudes com a vida, o Ser Integral vive equilibrado consigo, com o meio ambiente e com a sociedade. Na confecção de seus aparelhos essa busca pela autonomia gerou aparelhos ecológicos desenvolvidos através da matéria prima do bambu e de outros materiais reaproveitados como garrafas pets e câmaras de pneus descartados.
A abordagem do sistema Integral Bambu permeia a sustentabilidade do corpo e do meio ambiente. Com essa proposta, a equipe estabeleceu uma série de dinâmicas com o público do evento, proporcionando momentos de bem estar, reflexão e grandes surpresas que envolveram os atos de superação do próprio corpo para os que praticaram os exercícios.
O estúdio chamou atenção durante todo o evento, tanto da mídia como do público passante, sendo que por diversas vezes se tornou difícil conter os curiosos que entravam no espaço, em meio às práticas, para tocar os aparelhos e tirar dúvidas diretamente com o instrutor. Esta pronta aceitação levou a coordenadora à reformular a metodologia proposta e contratada pela patrocinadora, que era a de realizar quatro aulas práticas: duas pela manhã e duas pela tarde, cada uma de 45 minutos.
Dessa forma, no primeiro dia,logo após ao almoço, uma reunião de equipe redefiniu as funções e a formatação da ação.Criou-se um método de inscrição, seleção e organização dos participantes; ordenou-se o acesso ao espaço do estúdio e se reformulou o número de aulas.
A equipe formada pela produtora coordenadora Liane Muhlenberg, pelo mestre bambuzeiro instrutor Rodrigo Primavera, pela coordenadora assistente Flora Seixas, e pelos bailarinos monitores Dudu Garcia e Cacá Lopes , e pela quipe de apoio duas recepcionistas, um segurança e duas profissionais da limpeza, criou dinâmicas integrativas para melhor atender ao público.
A atividade Integral Bambu foi iniciada todos os dias às nove da manhã, com intervalos de duas horas entre as doze e às quatorze da tarde, transcorrendo sempre até as dezenove horas. As aulas ficaram organizadas com a duração de vinte minutos, com três pessoas participantes e com intervalos de dez minutos .
Durante o intervalo a equipe organizava a próxima turma e a lista de espera, prestava informação ao público, distribuia os brindes da Caixa e da Cia Nós No Bambu, selecionava as músicas para a próxima sessão, limpava o estúdio e atendia aos jornalistas interessados em registrar o movimento do grupo. Ao todo foram distribuídos 600 DVD’s dos espetáculos da Cia Nós No Bambu aos participantes da atividade, jornalistas, professores e visitantes ilustres do estúdio e ao público em geral mais de 5 mil brindes da Caixa como squeueze, réguas de material reciclado e canetas biodegradáveis.
A primeira hora de trabalho era destinada diariamente ao treino da equipe nos aparelhos com alongamento e aquecimento do corpo, necessário para enfrentar as nove horas de atendimento ao público.Os treinos da equipe chamavam a atenção do público que circulava no evento, criando o interesse para experimentação da prática.
A limpeza do tatame foi uma tarefa constante, executada pela equipe de apoio – supervisionada pela monitoria – pois a prática exige ambiente cuidado, harmonioso e limpo, necessário para o contato do corpo com o chão em momentos da atividade. No cuidado com o ambiente foram utilizados incensos, organização estética dos aparelhos e seleção do som com repertório variado de músicas, ora relaxantes, ora com sonoridade mais acelerada, de acordo com o momento da prática. Estes cuidados contribuíram para o bom desempenho da atividade tornando o ambiente aprazível
A harmonia da equipe, destacada pela experiência do instrutor aliada a atenção dos monitores, transmitia confiança aos praticantes.Os monitores foram responsáveis pela assessoria aos praticantes nos momentos em que estes sentiam dificuldades, ou medo, em executar movimentos novos à sua coordenação motora. Pudemos observar que os monitores se fizeram mais necessários nos exercícios em que os praticantes ficavam de ponta cabeça, com os braços livres, presos apenas pelas pernas na parte superior das pirâmides. O instrutor responsável pelas aulas ministrava movimentos voltados para as potencialidades especificas de cada grupo que se sucedia, – informações prestadas pelos participantes, na roda de conversa que antecedia à prática.
Durante o processo foram trabalhados movimentos terapêuticos de massagem e relaxamento, exercícios de alongamento, força, resistência, respiração, equilíbrio, concentração, agilidade, entre tantos outros que estimulassem o corpo e a mente para um novo nível de habilidades.
No lado de fora do estúdio, ficou armada uma pirâmide com configuração diferente das demais, que servia como uma cama de auto massagem para o público que aguardava a vez de praticar, ou para aqueles que, saídos da vivência, queriam relaxar e continuar o movimento do corpo. O aparelho ficava à disposição dos interessados, que recebiam orientação dos monitores para o uso seguro das possibilidades.
Ao longo do evento alguns acordos se fizeram necessários para o convívio na comunidade da Cúpula dos Povos. O stand à frente do estúdio acomodou um grupo de Indígenas, que apresentavam ao público duas intervenções diárias de rituais sagrados da dança Toré. Neste momento, como parte do acordo de convivência, baixávamos a música durante o ritual para não interferir, e do mesmo modo os índios dosavam o volume de suas músicas em momentos importante para nossa atividade. Foi a hora de exercitar a convivência colaborativa da equipe não só com a tribo, mas com toda vizinhança do estúdio Caixa/Integral Bambu.
O estúdio foi localizado na área da saúde junto com stand dos ativistas da homeopatia que coletavam assinaturas para encaminhar ao Congresso Nacional o pedido de elaboração de lei que disponibilize atendimento com homeopatas nas Rede Pública de Saúde; os praticantes da Cabala que difundiam a importância da saúde espiritual adquirida pela pratica dos ensinamentos cabalísticos;a tenda do Movimento Internacional das 13 Avós que preconizam a necessidade da cura do planeta e dos seres humanos; as defensoras do parto humanizado entre tantas outras vertentes do bem estar.
A demanda de interessados, com enormes listas de espera, facilitou a organização dos grupos por semelhanças potenciais físicas, pois o grande número de pessoas ajudava na formação dessas possibilidades. Essa metodologia otimizou a prática.Foi observado que ao se juntar pessoas com aparentes capacidades de resistência física, o grupo alcançava de forma homogênea, o ritmo da prática. Podemos constatar, com a aplicação da metodologia de seleção, que a idade nem sempre era um bom catalisador de homogeneidades para o melhor desenvolvimento da prática.A experiência em atividade física anterior era a melhor solução.
A experiência da equipe com a prática corporal muito contribuiu para o resultado alcançado já que o tempo de seleção dos grupos era curto, e a demanda grande. O objetivo da equipe foi a busca de bons resultados para os praticantes.
O cadastro da lista de espera fornecia além dos nomes, os dados idade e estado de origem dos participantes. Antes de cada prática era organizada uma roda de conversa com breve relato da origem da Integral Bambu e levantado o histórico físico de cada participante. O objetivo era saber se o participante mantinha atividade física regular, e qual. De posse destes dados, o instrutor orientava os exercícios em busca do melhor aproveitamento.
Em média ocorreram de onze a treze práticas por dia. Cerca de trezentas pessoas experimentaram a prática ao longo dos nove dias de atividades. Desse total, 60% eram jovens entre 16 e 29 anos, 20% do público ocupava a faixa etária entre 30 e 40 anos, 9% para as idades entre 51 e 60 anos, 8% entre 41 à 50 e 1% desse público tinha idade entre 61 e 80 anos.
Nessa pesquisa foi constatado que 54% eram do sexo feminino e 46% do sexo masculino, o que permite uma observação do interesse equilibrado entre os sexos.
Atraindo um público heterogêneo geograficamente, foram registrados dezessete Estados brasileiros e seis países.Dos estados brasileiros, o maior número de pessoas eram moradores do Rio de Janeiro, seguido por São Paulo, Brasília e Goiânia. Além desses Estados, estiveram presente pessoas do Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Tocantins, Roraima, Pará, Mato Grosso, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Roraima e Ceará. Entre os países registramos visitantes da Itália, Holanda, Bolívia, Espanha, Chile e Argentina.
A grande quantidade de pessoas que passaram pela pratica possibilitou uma troca enriquecedora de conhecimento corporal entre instrutor e monitores com os participantes.Cada participante trazia consigo uma bagagem histórica de corpo, com seus limites, suas superações, suas potencialidades, seu desenvolvimento motor, seu jeito particular de se movimentar, seu ritmo, sua postura e seus hábitos cotidianos. Tudo isso foi trabalhado durante as práticas, na medida em que eram exploradas atividades que despertassem a consciência dessa história pessoal, no desenvolvimento do corpo. Todo praticante pôde – ao explorar com sua bagagem corporal específica – acrescentar novas maneiras de enxergar o sistema Integral Bambu, atribuindo novas funcionalidades ao corpo à partir da descoberta de movimentos pouco exercidos no seu dia a dia.
Os praticante trouxeram para as aulas um ponto de vista sobre o aparelho, sugerindo rítmos aos movimentos. Registrar os conhecimentos trazidos pelos praticantes de diferentes atividades como dança clássica e contemporânea, break, yoga, pilates, le parkour e tantas outras linhas de pesquisa do movimento corporal.
A idéia principal era mostrar que o ato de se movimentar é vital para o ser humano, e que tudo pode ser uma pesquisa constante se você está atento aos seus movimentos diários e as mensagens que o corpo emite. A sugestão é, portanto, que mais que uma prática, a Integral Bambu é uma filosofia de vida, onde a atenção consigo mesmo e com seu corpo se dá à todo momento, nas coisas mais simples da rotina diária. Toda a observação do seu corpo é de máxima importância para a melhoria da sua prática em qualquer atividade física que escolha, inclusive nas pirâmides de Bambu. Por isso, a Integral Bambu é, em sua essência, o exercício da mente, pois sugere a pesquisa de si mesmo para a harmonia do corpo.
Oferecendo saúde integral, tivemos resultados muito bons com pessoas que chegaram com sintomas de dores em regiões diversas do corpo, e saíram se sentindo melhor, retornando nos demais dias, com regularidades de horários, para dar continuidade ao breve “tratamento”. Uma grande alegria foi sentida por parte das pessoas, principalmente as que possuíam alguma crença de incapacidade, por realizarem movimentos desafiadores, como ficar de ponta cabeça, dar cambalhotas suspensos e fazerem escalada sem o uso das mãos.
Destacamos momentos importantes, com pessoas que sofriam de alguma limitação mais séria, por causa de cirurgias, acidentes e doenças, que conseguiram através da prática, ainda que limitada no tempo, evoluir nas suas capacidades de movimentação, como o caso em especial de um jovem de 26 anos que praticava escalada, e sofrera recentemente um AVC que lhe tirou o controle livre do corpo. Ele participou entusiasmado de uma aula no estúdio, e saiu radiante com as possibilidades oferecidas pelo aparelho. Os exercícios lhe permitiram ter mais segurança nos seus movimentos por estabelecer contato com a estrutura terapêutica do bambu, e por acompanhar, no seu ritmo toda a proposta dos 20 minutos da prática. Sua atuação emocionou os colegas que praticavam junto, e ao público que assistia. Ao término da aula, o rapaz foi aplaudido pelo público e abraçado pelo pai, que o acompanhava e assistia chorando emocionado a evolução do filho. Diante das necessidades do rapaz, a coordenadora da ação ofereceu, em nome da Caixa, na forma de doação, uma pirâmide ao rapaz, para ser retirada no final do evento.
A partir do quarto dia foi formada uma turma de frequentadores assíduos, que aprofundava a pesquisa ampliando as possibilidades de dar continuidades à nova descoberta. A cada dia que se passava, mais as notícias corriam por todo evento. Primeiro de boca em boca, depois através de canais de comunicação, como Globo News, jornais locais de grande circulação do Rio de Janeiro, programas de rádios e sites de sustentabilidade, o que provocava um acréscimo cada vez maior do número de curiosos e visitantes.
Em síntese, na avaliação do trabalho realizado, constatamos que o mesmo foi executado sem dificuldade, com grande satisfação por parte de toda a equipe, que os objetivos foram alcançados para além das expectativa, tomando proporções surpreendentes na difusão do sistema Integral Bambu e na receptividade do público da Rio + 20.